Animação Cultural: uma escolha de vida

A Animação Cultural é fundamentalmente um processo de intervenção que se constitui “a favor”, não necessariamente “contra” algo. É pensar uma iniciativa de “alfabetização” cultural em várias vias. Não é só para a escrita que somos educados cotidianamente, como também para os sons, olhares, paladares, sensações em geral. (Melo, 2004)

domingo, 25 de abril de 2010

Reflexâo I


Animação Cultural e os Estudos Culturais
Deve-se primeiro entender que cultura não pode ser encarada de forma homogênea e uniforme, suas definições sofrem constantemente mutações em função das relações de poder no decorrer do tempo, dos interesses envolvidos, nos embates e tensões vivenciadas pelos atores sociais. A partir da metade do século XX a cultura passa a ser compreendida de uma forma amplificada, como um modo de se viver, como um conjunto de normas, hábitos e valores. Sensibilidades que concedem o direito à vida em comunidade e parte essencial da vida moderna, que reside na força e na influência dos meios de comunicação de massa e na difusão cultural, esta é, a consolidação do que Guy Debord (1997) determina como “sociedade do espetáculo”.
              Os Estudos Culturais surgem como Animação Cultural, diz o professor Melo3– “Creio inclusive que a Animação Cultural pode resgatar alguns projetos originais dos Estudos Culturais, de certa forma esquecidos, abandonados ou hoje menos valorizados em função dos caminhos pelos quais, essa outrora ‘não disciplina’ vêm percorrendo.” Pensadores dos Estudos Culturais como Willians e Thompson se debatiam contra uma tradição que separava a cultura do âmbito da política e da economia. Estes afirmavam ser a cultura um agente com uma função social nestas duas esferas de poder, sendo um campo validado pelas lutas e resistências, ainda mais necessárias e fortalecidas na contemporaneidade.
            Não se poderá entender o processo de mutação que estamos vivenciando limitando o pensamento das revoluções democráticas, industriais e culturais sendo realizadas separadamente, ou seja, em bloco. Todo o tecido social está sendo profundamente afetado pelo progresso da democracia, da indústria e pela extensão propagada pelos meios de comunicação de massa, afirma Cevasco.Desta maneira, os bens culturais deverão ser também compreendidos no interior da lógica de produção, sempre relacionados a valores e sensibilidades que permitam uma vivência harmoniosa e concreta na sociedade. O desafio será então o de criar condições para que todos possam ter acesso aos produtos culturais, disseminando o pensamento que as camadas populares também participam da cadeia produtiva de bens culturais e que, então não serão apenas consumidores (quando permitidos) destes mesmos bens.
(continua)

3 Victor de Andrade Melo, professor da UFRJ, coordenador do Grupo de pesquisa “Lazer e Minorias Sociais”. Maiores informações sobre o grupo pelo site: www.lazer.eefd.ufrj.br.

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